As atividades a que nos dedicamos cotidianamente pressupõem a
aceitação de diversas crenças e valores de que nem sempre estamos
cientes. Acreditamos habitar um mundo constituído de diferentes objetos, de diversos tamanhos e diversas cores. Acreditamos que esse mundo organiza-se num espaço tridimensional e que o tempo
segue a sua marcha inexorável numa única direção. Acreditamos que as
pessoas ao redor são em tudo semelhantes a nós, veem as mesmas coisas,
têm os mesmos sentimentos e sensações e as mesmas necessidades.
Buscamos interagir com outras pessoas, e encontrar alguém com quem
compartilhar a vida e, talvez, constituir família, pois tudo nos leva a
crer que essa é uma das condições para a nossa felicidade.
Periodicamente reclamamos de abusos na televisão, em propagandas e
noticiários, na crença de que há certos valores que estão sendo
transgredidos por puro sensacionalismo.
Em todos esses casos, nossas crenças e valores determinam nossas ações
e atitudes sem que eles sequer nos passem pela cabeça. Mas eles estão
lá, profundamente arraigados e extremamente influentes. Enquanto
estamos ocupados em trabalhar, pagar as contas ou divertir-nos, não
vemos necessidade de questionar essas crenças e valores. Mas nada
impede que, em determinado momento, façamos uma reflexão profunda sobre
o significado desses valores e crenças fundamentais e sobre a sua
consistência. É nesse estado de espírito que formularemos perguntas
como: “O que é a realidade
em si mesma?”, “O que há por trás daquilo que vejo, ouço e toco?”, “O
que é o espaço? E o que é o tempo?”, “Se o que aconteceu há um
centésimo de segundo atrás já é passado, será que o presente não é uma
ficção?”, “Será que tudo o que acontece é sempre antecedido por causas?”, “O que é a felicidade? E como alcançá-la?”, “O que é o certo e o errado?”, “O que é a liberdade?”.
Essas perguntas são tipicamente filosóficas e refletem algo que poderíamos chamar de atitude filosófica perante o mundo e perante nós mesmos. É a atitude de nos voltarmos para as nossas crenças mais fundamentais e esforçar-nos por compreendê-las, avaliá-las e justificá-las. Muitas delas parecem ser tão óbvias que ninguém em sã consciência tentaria sinceramente questioná-las. Poucos colocariam em questão máximas como “Matar é errado”, “A democracia é melhor que a ditadura”, “A liberdade de expressão e de opinião é um valor indispensável”. Mas, a atitude filosófica não reconhece domínios fechados à investigação. Mesmo em relação a crenças e valores que consideramos absolutamente inegociáveis, a proposta da filosofia é a de submetê-los ao exame crítico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adesão seja restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosófica é a de que, se é para sustentarmos certas crenças e valores, que sejam sustentados de maneira crítica e refletida.
Muitos autores identificam essa atitude filosófica com uma espécie de habilidade ou capacidade de se admirar com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a curiosidade típica das crianças ou dos que não se contentam com respostas prontas. Platão, um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de assombro ou admiração está na origem do pensamento
Alícia
Essas perguntas são tipicamente filosóficas e refletem algo que poderíamos chamar de atitude filosófica perante o mundo e perante nós mesmos. É a atitude de nos voltarmos para as nossas crenças mais fundamentais e esforçar-nos por compreendê-las, avaliá-las e justificá-las. Muitas delas parecem ser tão óbvias que ninguém em sã consciência tentaria sinceramente questioná-las. Poucos colocariam em questão máximas como “Matar é errado”, “A democracia é melhor que a ditadura”, “A liberdade de expressão e de opinião é um valor indispensável”. Mas, a atitude filosófica não reconhece domínios fechados à investigação. Mesmo em relação a crenças e valores que consideramos absolutamente inegociáveis, a proposta da filosofia é a de submetê-los ao exame crítico, racional e argumentativo, de modo que a nossa adesão seja restabelecida em novo patamar. Em outras palavras, a proposta filosófica é a de que, se é para sustentarmos certas crenças e valores, que sejam sustentados de maneira crítica e refletida.
Muitos autores identificam essa atitude filosófica com uma espécie de habilidade ou capacidade de se admirar com as coisas, por mais prosaicas que sejam. Na base da filosofia, estaria a curiosidade típica das crianças ou dos que não se contentam com respostas prontas. Platão, um dos pais fundadores da filosofia ocidental, afirmava que o sentimento de assombro ou admiração está na origem do pensamento
Alícia
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